A “BOLHA IMOBILIÁRIA” NORTE-AMERICANA E O MERCADO DE IMÓVEIS NO BRASIL

19 de fevereiro de 2010

A chamada “bolha imobiliária” norte-americana levou esse nome apenas porque a crise financeira teve início com a quebra de vários agentes financeiros que negociavam ou garantiam empréstimos e hipotecas habitacionais. Essas quebras, por outro lado, deram-se muito mais pela facilidade com que o setor bancário emprestava dinheiro, tendo como garantia imóveis dos tomadores, do que por uma suposta oferta excessiva de imóveis.

A realidade é que, nos dois últimos anos, finalmente houve um retração já era esperada na economia estadunidense (preconizada há muito pelo próprio ex-presidente do Banco Central americano, que chamava o crescimento contínuo do país de “exuberância irracional”), a qual acabou gerando uma corrosão da renda da enorme classe média americana e um grave desemprego. Premidas pela falta de recursos, muitas pessoas deixaram de pagar seus empréstimos habitacionais.

Por conta dessa inadimplência, um sem número de hipotecas dos imóveis de devedores foram executadas. O grande volume de imóveis retornados ao mercado pelos bancos, aliado ao fato do setor imobiliário estar muito valorizado – como acontece em qualquer nação cuja economia esteja superaquecida -, fez com que houvesse uma reação em cadeia descendente. Os ricos retraídos, uma classe média sem recursos para investir e um oferecimento excepcional de imóveis usados (e caros) na praça, resultaram na chamada “bolha imobiliária”, que inchou e explodiu.

Portanto, o problema havido no mercado imobiliário norte-americano não foi a causa da crise, mas uma conseqüência dela. Inundado por imóveis cujo valor inicial já não se mantinha, inesperadamente repostos à venda, o mercado viu-se sem compradores, e, com a lei da oferta e da procura ainda vigorando, os preços venais começaram a cair, deixando o sistema financeiro dos EUA ainda mais a descoberto, sem garantias dos seus haveres (aqui, chamamos isso de “créditos podres”). Não por outro motivo, o governo federal obrigou-se a injetar um montante superior a um trilhão de dólares nas instituições bancárias para evitar o mal maior: a falência generalizada do sistema.

Essa situação, ao contrário de trazer prejuízos ao Brasil, fez com que muitos investidores do Primeiro Mundo desembarcassem seus recursos no país, cuja estabilidade econômica e bom desempenho financeiro – inclusive passando da condição de devedor inadimplente para a de credor do Fundo Monetário Internacional – impactaram positivamente o planeta. Além do mais, nenhum banco enfrenta hoje grandes problemas com seus empréstimos habitacionais, resolvidos que foram – igualmente com ajuda oficial – após a extinção do BNH. Não são poucos, assim, os estrangeiros que vêm aplicar seu dinheiro em imóveis na nova terra prometida.

Tal circunstância, associada à decisão do presidente Lula de implementar um vasto programa habitacional subsidiado para as classes C e D e de abrir os cofres para financiamentos destinados à classe média, fizeram com que o mercado imobiliário brasileiro passasse a viver um certo boom, conquanto bem controlado e com riscos absolutamente normais. Não é à toa, pois, que o noticiário especializado e os cadernos de classificados imobiliários dos jornais mostram um contínuo crescimento na compra, venda e locação de imóveis novos e usados.

Carlos Alceu Machado
Advogado pós-graduado em Direito Imobiliário, Empresário, Consultor, Coach e Palestrante para o Mercado de Imóveis